Após uma semana marcada por ameaças, fake news, mobilização social e diligência policial na casa do investigado, envolvidos sentem reflexos do poder da internet
Por Ricardo Nogueira
O anonimato de vidas tranquilas chegou ao fim. Em decorrência de um ato extremo, dois jovens moradores de Bananal, com pouco mais de vinte anos de idade, se viram expostos nacional e internacionalmente após a fatídica cavalgada que terminou com a morte e mutilação de um cavalo — caso que transformou a rotina da cidade e vem sendo acompanhado pela Gazeta de Bananal desde o primeiro momento, pautada pelo envio de denúncias dos leitores.
Em poucos dias, a repercussão tomou proporções inesperadas: influenciadores digitais, celebridades do ramo artístico e entidades ligadas à causa animal passaram a repercutir o caso em massa, fazendo com que a identidade do investigado, Andrey Guilherme, apelidado de "boiadeiro", se espalhasse por todo o Brasil e em veículos internacionais.
Nesse contexto, o lado nebuloso da internet: surgiram perfis falsos do jovem nas redes sociais, narrativas imprecisas do fato, como o decepamento das quatro patas do animal (foram duas) com o facão, boatos de prisão seguida de fiança (ele não chegou a ser preso em nenhum momento) e até a falsa notícia de que teria sido morto por facções criminosas. Também circularam imagens de outras pessoas e cavalgadas sem relação alguma com o episódio, tratadas como se fossem dele ou momentos que antecederam a morte do cavalo.
A pressão das redes se estendeu às famílias, que relatam ameaças e hostilidade contra os filhos. A Gazeta de Bananal prepara uma entrevista exclusiva com pelo menos um dos envolvidos, a fim de ouvir suas versões e mostrar os efeitos desse turbilhão midiático em suas rotinas. O cotidiano antes tranquilo de suas vidas em Bananal dificilmente voltará a ser como antes.
Num contexto mais leve e emotivo, a repercussão originou músicas para o animal, poemas e desenhos retratando o cavalo como um anjo.
No campo das investigações, perícias da Polícia Civil serão decisivas: elas vão definir se o cavalo estava vivo no momento da mutilação e até mesmo se o animal sofreu cortes em seu tronco (barriga). As perícias, realizadas por especialistas em casos envolvendo morte de animais, poderá alterar o enquadramento jurídico e o grau de responsabilidade do investigado. A apuração também considera a possibilidade de que o animal tenha morrido de fadiga, como alega o investigado.
Furo de reportagem – decisão judicial
A Gazeta de Bananal divulgou com exclusividade, em tempo real, a movimentação de viaturas na casa de Andrey, com policiais acompanhados de um Oficial de Justiça. A juíza da Comarca de Bananal determinou diligência policial na casa do investigado, para apreender qualquer animal que estivesse sob sua guarda. A ação foi realizada pela Polícia Militar Ambiental no início da tarde da sexta-feira (22/08), após a magistrada atender pedido do Fórum Nacional de Defesa e Proteção Animal. O mandado tramitou em sigilo até sua efetivação, para garantir o êxito da medida.
Além da apreensão, o Fórum também solicita o pagamento de R$ 20 mil a título de dano moral coletivo, em razão da forte repercussão e do impacto social causado pelo crime de crueldade contra o animal.
Mobilização por leis mais rígidas
Paralelamente, autoridades locais passaram a se articular junto a parlamentares estaduais e federais em defesa de uma legislação mais rigorosa contra maus-tratos. O mesmo acontece com entidades de defesa à causa animal e com celebridades. A mobilização é apontada como reflexo da pressão social e da comoção causada pelo caso, que se tornou um símbolo do debate sobre as limitadas punições previstas nas leis atuais.
A anônima cavalgada dos dois jovens no último sábado no "sertão" do Guaraná Quente, com o martírio do cavalo, deve resultar em leis de abrangência nacional mais severas para coibir maus-tratos aos animais, com punições que atendam o grau de indignação e revolta da opinião pública.