Há 107 anos, nascia Herivelto Martins: "Um Amigo de Bananal".


Se fosse vivo, Herivelto Martins, reconhecidamente um dos maiores compositores da música brasileira, estaria completando hoje 107 anos de idade.

Verdadeiro ícone do samba e de marchinhas, o compositor, em determinada época da atribulada carreira, encontrou em Bananal um recanto de paz para priorizar laços familiares e receber amigos famosos e anônimos. Impactou a sociedade local a cada nova amizade e não resistiu aos convites de participar e incentivar um sem número de eventos culturais na cidade, incluindo aí o embrião de fundação da SAB (Sociedade Amigos de Bananal).

Em 1959, ele conseguiu a façanha de trazer a Bananal para um evento de apoio à SAB, o maior cantor brasileiro da época, Nélson Gonçalves, no ápice de sua carreira. A celebração de gala ocorreu no Cine Santa Cecília (atual Centro Cultural Carlos Cheminand), pois a SAB ainda não tinha sua sede, construída dois anos depois ao lado da Igreja do Rosário.

O cantor Nélson Gonçalves, Dr. José Rangel de Almeida, Píndaro Néri Tressoldi Nogueira, Antônio Gavião e Herivelto Martins,
em evento realizado no Cine Santa Cecília (atual Centro Cultural), em 1959, antes da construção da sede própria do clube.

No transcorrer dos anos, o autor de "Ave Maria no Morro" colaborou inúmeras vezes para o sucesso da Festa do Senhor Bom Jesus do Livramento, Padroeiro de Bananal, embevecendo o público local com apresentações de artistas da época de ouro do rádio brasileiro.

Em 1988, convidado para uma entrevista no Programa "A Cidade faz o Show", da TV Cultura, a Gazeta de Bananal presenciou sua declaração a um de seus amigos locais, Píndaro Nogueira. Enquanto aguardava a gravação, brincou: "Não sei por que me chamaram... Sou apenas um grande amigo de Bananal". Sorrindo, finalizou: "Se for falar o quanto isso aqui me encanta, vai levar o programa inteiro".

Momentos depois, sentado no banco da Praça Pedro Ramos com um violão no colo, fechou a entrevista entoando uma canção: "(...) Bananal, Bananal, Bananal, quem te conhece, jamais te esquece".

Trajetória

Herivelto de Oliveira Martins nasceu na localidade de Vila de Rodeio, hoje município Engenheiro Paulo de Frontin, estado do Rio de Janeiro, no dia 30 de janeiro de 1912. 

Com três anos já declamava versos escritos pelo pai, Félix B. Martins. Entre os nove e os doze anos, aprendeu música, formou grupo teatral com os irmãos e fez paródias musicais no clube-teatro de Barra do Piraí, acompanhado de violão e cavaquinho. Trabalhou como caixeiro em loja de móveis e aos treze formou um trio com artistas circenses com os quais percorreu o interior do estado do Rio.

Em 1930, se mudou com a família para o bairro do Brás, em São Paulo, conseguindo emprego em um botequim.

Após uma discussão com o pai, resolveu partir para o Rio de Janeiro aos 18 anos de idade. Lá, foi palhaço de circo, vendedor e ajudante de contabilidade. Após fazer bicos aos sábados em uma barbearia, recebeu convite para gerenciar uma delas no bairro de São Carlos, celeiro de grandes sambistas da época. Conseguiu então estabelecer contatos artísticos que o levaram ao dono da gravadora RCA Vítor.

Em 1932, lançou sua composição "Da Cor do Meu Violão", inspirada em uma namorada que teve no bairro do Carvão, em Barra do Piraí. O sucesso da marchinha o levou a ser ritmista do Conjunto Tupi. Com suas inovações, como os breques durante as gravações, chegou ao posto de diretor.


Entre 1932 e 1936 formou a Dupla Preto e Branco. Primeiro com Francisco Sena e depois, devido à morte deste, com Nilo Chagas, interpretando marchinhas e sambas que caíram no gosto popular. Numa época em que o samba ainda não havia "descido o morro" e ganhado a cidade, Herivelto criou várias músicas para homenagear a Estação Primeira de Mangueira, entre elas "Saudosa Mangueira" e "Lá em Mangueira".

Em 1937 a dupla gravou, com a grande cantora Dalva de Oliveira, o batuque "Itaquari" e a marchinha "Ceci e Peri". O sucesso estrondoso levou à criação do Trio de Ouro, uma das mais renomadas e populares formações musicais do país.

O talento de compositor, em parcerias ou sozinho, enriqueceu a música brasileira com vários outros sucessos como "Caminhemos", "Pensando em Ti", "Praça Onze", "Samba para Três", "A Bahia Te Espera""Cabelos Brancos", "Segredo" e "Noite Enluarada". 

Em 1986, a Escola de Samba Unidos da Ponte homenageou Herivelto Martins com o enredo "Tá na hora do Samba, que fala mais alto, que fala primeiro".


Aos 80 anos, Herivelto faleceu no Rio de Janeiro no dia 17 de setembro de 1992. 

Uma das mais completas definições profissionais do compositor vieram de seu filho, o cantor Pery Ribeiro: “Meu pai Herivelto Martins, ainda é o cronista maior de um Rio de Janeiro que abrigou em seu tempo as maiores cabeças musicais no nosso país. Com a força e sensibilidade de sua obra, liderou um momento artístico que enriqueceu a cultura popular do Brasil, deixando um legado de simplicidade e comunicação com a massa, numa linguagem de cores tão fortes que irão colorir para sempre a alma do povo brasileiro”.


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