O infeliz coadjuvante que passou por Bananal

 


Talvez, os conterrâneos tenham dado importância demais para o ofensor, de papel tão secundário, dada a sua pobreza de talento e completa ignorância sobre cidades pequenas.

Por Ricardo Nogueira 

Passou por Bananal um desbocado coadjuvante do elenco da série "De Volta aos 15" da Netflix para as gravações da 2ª temporada.

O problemático coadjuvante, que não deve somar 10 minutos de participação na edição final dos episódios da primeira temporada, ficou entendiado enquanto aguardava condução para embarcar para Bananal na madrugada do último domingo. Resolveu então postar um vídeo em rede social sobre a enfadonha espera e balbuciou um desabafo, do alto da sua inconsequência juvenil, sobre Bananal.

Deu à cidade a mesma classificação que muitos dão à sua carreira artística e ao seu papel, também de coadjuvante, na vida do próprio pai. Por sinal, a quem, invariavelmente, contraria e coleciona polêmicas e embaraços.

Em que pese a ofensa ter partido de alguém sem a menor relevância para a vida de Bananal e seus cidadãos, um sentimento de revolta tomou conta da cidade à medida que o vídeo era compartilhado. A postagem começou a "bombar" na cidade na manhã de terça-feira (8), segundo dia de gravações no centro histórico.

O prefeito, em viagem a Brasília, externou a indignação e revolta da população, exigindo retratação da produtora e do coadjuvante em questão.

No que concerne à produtora, talvez a cobrança tenha sido exagerada, uma vez que, desde o ano passado, sua postura sempre foi irrepreensível e foge de seu alcance a conduta irresponsável de um de seus contratados antes mesmo do início da viagem para cá.

Da mesma forma, os demais colaboradores, atrás e em frente das câmeras, sempre demonstraram o profissionalismo que se espera de uma produção de excelência. Esbanjando simpatia - ressaltamos novamente - bom trato e educação com o público, tanto nas gravações da primeira temporada quanto agora. Por isso, continuam bem-vindos e a produção continua em sintonia com a cidade, agregando muito para o comércio, rede hoteleira e na sua divulgação como destino turístico.

De forma humilde, a produtora emitiu a nota exigida. Mais uma eloquente demonstração de respeito e consideração pela cidade.

Quanto  ao ofensor, a demora na retratação, três dias depois da postagem, por si só já revela o grau de seu "arrependimento". Sem falar que uma mensagem por WhatsApp sequer chega perto do alcance de um post em vídeo no Instagram. Mas isso deve ficar na sua devida insignificância.

Talvez, os conterrâneos tenham dado importância demais para o ofensor, de papel tão secundário, dada a sua pobreza de talento e completa ignorância sobre cidades pequenas. Não foi o primeiro e nem será o último a achar que cidade pequena é algo desprezível comparado à vida da cidade grande. Deixemos que pense assim, para o bem das demais cidades pequenas que detestariam receber um visitante desse "naipe".

Cidade pequena gosta de ser visitada, trata bem a todos que chegam, os acolhe, faz amizades e se despede com a esperança de que retornem. Ser bom anfitrião é cultura enraizada no interior. 

Por isso, desprezo por parte de quem é bem acolhido ofende tanto. Numa tradução simples - bem interiorana -, a ingratidão chateia, mas também serve para o matuto medir o caráter do visitante que se foi.

O desequilibrado coadjuvante da série da Netflix certamente ignora que a produção que lhe dá emprego é mais uma, dentre tantas, encenadas em Bananal, cidade que costuma dar sorte às inúmeras produções com locações feitas por aqui. Desde a novela "Casarão" (1976), passando por "Dona Beija"(1986), pelos remakes de "Cabocla", "Sinhá Moça", "Saramandaia", "Dona Flor", fora outras minisséries e filmes nacionais e internacionais. Inclua-se neste rol, o mais recente sucesso da Globoplay, "Todas as Flores".

Nessas produções, passaram por Bananal atores como Tony Ramos, Patrícia Pillar, Tarcísio Meira, Maitê Proença, Cauã Reymond, Lilia Cabral, Osmar Prado, Dira Paes, Marco Nanini, Edson Celulari, Giulia Gam, Mário Lago, Mauro Mendonça, Gracindo Júnior, Marcos Pasquim, Leandra Leal, Reginaldo Faria, Vanessa Giácomo, Malvino Salvador, Danton Mello, enfim, um incontável elenco de artistas de primeiríssimo nível. 

O infeliz coadjuvante da Netflix foi embora sem saber que a Estância Turística de Bananal está há décadas acostumada a receber artistas de verdade. No talento e na educação, com esmerada classe.

Nomes merecedores de menção e lembranças na sua passagem por Bananal, não apenas pelo encanto que demonstraram pelas belezas naturais e riquezas históricas do município, mas pelo exemplo de profissionalismo naqueles trabalhos marcantes que enobrecem a classe artística e a dramaturgia brasileira.

E é neste contexto que os adjetivos a Bananal estão inseridos, de forma indelével, para o orgulho de todos nós.


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