Carnaval de Bananal deveria ter organização participativa, debatida com setores envolvidos

 

Mobilização deveria elaborar um regramento para que o Carnaval atenda plenamente seus objetivos econômicos, culturais e sociais.

Por Ricardo Nogueira

Basicamente vou reescrever aqui o conteúdo de artigos publicados pela Gazeta na primeira década dos anos 2000. A diferença é que algumas previsões pessimistas da época, infelizmente, se confirmaram. Em contrapartida, outros pontos positivos se consolidaram.

O cerne da questão é o fato do Carnaval de Bananal ser grande demais para ficar à mercê do entendimento centralizado dos gestores de plantão, por mais boa vontade que tenham. Por justiça, frisemos que sempre foi assim, desde os anos 90, quando começaram os bailes populares na rua.  

Urge uma mobilização dos  setores envolvidos - e da opinião pública - pela elaboração de um regramento para que o Carnaval atenda plenamente seus objetivos econômicos, culturais e sociais. Se não houver essa mobilização da sociedade, pouco se pode esperar dos poderes públicos no quesito "inovação".

O que temos hoje é um Carnaval que sempre agrada aos turistas, desagrada uma parcela dos comerciantes e abre discussões sobre os valores gastos para promover a folia. 

Blocos   

Dentre as previsões pessimistas citadas no início deste artigo estava a de que a falta de apoio aos blocos acarretaria no seu desaparecimento. Em especial, os que tentaram - ou tentam - manter resquícios das memoráveis Escolas de Samba que existiram entre os anos 60 e o início da década de 1980: a ESAB e a ESAR (Morro). 

Graças a blocos como o Unidos da Palha neste ano, persiste o legado sambista em Bananal. A Vila, ao que tudo indica, não voltará após décadas abrilhantando o carnaval da cidade. 

Cabe ressaltar que as saudosas escolas de outrora só conseguiram desfilar graças ao heroico empenho das famílias que estavam à sua frente. Para custear fantasias, adereços, carros alegóricos e instrumentos da bateria, as duas escolas promoviam "Livros de Ouro", bingos, Festivais de Chopp e outras ações. A ajuda dos poderes públicos sempre foi ínfima, dada a escassez de recursos na época. Eram tempos mais difíceis do que hoje. Do mesmo mal padeceram as agremiações que, igualmente belíssimas, deram sobrevida ao formato das escolas de samba no final dos anos 80 e início dos 90: a Império Bananalense e a Unidos da Vila. Padeceram do mesmo problema e tiveram a mesma sina de desaparecerem por falta de apoio oficial.

Ao longo dos anos, blocos foram surgindo e desaparecendo até que, mais recentemente, com novo formato, alguns deles se consolidaram. É daí que vem a demanda para uma fórmula ideal.

Quem entende o mínimo de Carnaval em Bananal já constatou que os blocos são as grandes atrações e como tal devem ser tratados. São eles que, culturalmente, mantém o legado de confraternização com os visitantes, os reencontros de conterrâneos e o congraçamento entre todos. 

Blocos como os da Boa Morte, do Laranjeiras, da Palha, da Vila, Pergunta Lá, Fritz e o irreverente Bloco das Piranhas, sempre proporcionaram os melhores momentos da avenida.   

Passou da hora das inócuas moções de aplausos da Câmara de Vereadores darem lugar a debates e audiências públicas para estudos de uma legislação que viabilize o apoio oficial para essas manifestações genuinamente locais. O mesmo vale para a Prefeitura. 

Não faltam exemplos para servirem de base. Em Belo Horizonte, uma Lei Municipal instituiu direitos, deveres e o regramento para o apoio oficial aos blocos. Com base em lei aprovada pela Câmara e regulamentada por Decreto pela Prefeitura, é formada uma Comissão de Análise pelos moradores e entidades representativas do turismo, estabelecendo critérios a serem cumpridos pelas agremiações e blocos. Preenchidos os requisitos, elas passam a ter direito às subvenções. Tudo de forma transparente e sem privilégios.

Estrutura

Resolvida a falta de incentivo aos blocos, resolve-se também a finalidade da Manoel de Aguiar na folia, qual seja, consolidá-la como avenida de desfiles em sequência. Alguém tem dúvida de que Bananal teria blocos para desfilar ali das 16h às 23h nos dias de pico (sábado, domingo e segunda)? E aquela avenida movimentada incrementa os estabelecimentos comerciais ali instalados.

Encerramento e dispersão do público 

O horário diurno seria a solução para a excrecência que é encerrar a folia em Bananal às 2h da manhã. Beira o absurdo e vai contra a tradição local. Salvo engano, a medida é mais uma imposição dos órgãos de segurança do que uma vontade da Prefeitura. Se no próximo ano retornarem os blocos que desfilaram em 2020, esse horário ficará impraticável. Que seja ao menos estendido até as 3h, porque persiste o sério problema da dispersão dos foliões após o encerramento dos shows. Que o digam as bombas de efeito moral soltas pela PM em plena Praça Pedro Ramos na madrugada de segunda para terça-feira. Episódio controverso que, mesmo justificável, em nada contribuiu para a imagem de um "Carnaval Família".

Os banheiros químicos são outro tópico tão problemático quanto recorrente no Carnaval de Bananal. Melhorou muito em relação aos anos iniciais, mas a instalação centralizada deles num único local não resolve o problema dos demais logradouros do centro histórico se transformarem em mictórios a céu aberto.

A impopular Zona Azul é outro quesito que não pode ser deixado para a última hora. Neste ano, a licitação foi realizada às vésperas da folia e a cobrança sequer foi implementada.

Caminhada Carnavalesca

Prestes a completar duas décadas de sua implantação na gestão 2005-2008, a Caminhada foi a inovação que mais deu certo no Carnaval de Bananal. Tornou-se um evento de luz própria, responsável pela grande movimentação de foliões no domingo de carnaval. O cortejo com milhares de pessoas de variadas gerações seguindo o trio elétrico se transformou em vitrine da folia local. Neste ano, o padrão foi mantido. A título de aperfeiçoamento estrutural, é necessária a instalação de banheiros químicos na praça Dona Domiciana (Estação). Tanto em função da Caminhada, quanto para a chegada e partida dos foliões naquele entorno nos horários de pico. 

Palco e Bandas

A montagem de palco e contratação de bandas é o que mais encarece a festividade. Assim como os demais atrativos, existem aqueles que gostam mais do Carnaval com banda e outros que se satisfazem com som mecânico. Impossível agradar a todos. Que os prós e contras sejam avaliados pelos organizadores e em conformidade com o orçamento da Prefeitura para Turismo em cada exercício financeiro.

Em suma, por sua grandeza e complexidade, o Carnaval de Bananal precisa definir uma fórmula de organização, debatida pelos segmentos diretamente envolvidos. Caso contrário, continuará prevalecendo a mesmice organizacional de sempre, com a sorte de que, historicamente, a folia por aqui sempre transcende e abafa o amadorismo.

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