Reação da mãe de Kelsy ao assistir o vídeo do prefeito foi a pior possível; ela afirma que a sala estava suja, com equipamentos fora do lugar e sem os medicamentos necessários no carrinho de emergência, contrariando o que foi mostrado pelo prefeito no vídeo gravado no mesmo local
Por Ricardo Nogueira
A mãe de Kelsy Santos, que faleceu aos 37 anos no último dia 18 de maio após atendimento na Unidade Mista de Saúde de Bananal, contestou publicamente a versão apresentada pelo prefeito William Landim da Silva no vídeo em que ele tenta convencer a população de que os equipamentos utilizados no atendimento à filha funcionam perfeitamente.
Vicentina Rosa dos Santos tem feito desabafos seguidos em sua rede social após a morte da filha. Num deles, dirigindo-se diretamente ao prefeito, ela afirma que a sala de emergência mostrada pelo chefe do Executivo teria sido “maquiada” para passar ao público uma imagem diferente da realidade vivida no dia da tragédia.
"Senhor prefeito, eu como mãe da vítima jamais iria mentir sobre o descaso ocorrido com minha filha", postou ela em mensagem na própria postagem do prefeito. Ela relata que, no dia do atendimento, a sala estava suja, com equipamentos fora do lugar e sem os medicamentos necessários no carrinho de emergência, contrariando o que foi mostrado pelo prefeito no vídeo gravado no mesmo local.
“Se você está falando que tinha medicação no carrinho, por que não foi utilizado no caso da minha filha? O chão estava cheio de sangue, o monitor que estava na sala não era esse, era um pequeno que foi o mesmo usado no transporte dela”, escreveu a mãe, revoltada com a situação.
Ela ainda afirmou que a equipe de enfermagem buscava peças no chão para tentar conectar os equipamentos e que há testemunhas que estiveram na sala antes da morte de Kelsy e podem comprovar as condições precárias do local. “Vocês querem maquiar uma coisa que não existe”, desabafou. “Mentira não vai trazer minha filha de volta! Lamentável sujeira, a justiça de Deus não falha!”
Com base nos comentários postados na publicação, o vídeo não atingiu o objetivo de convencer a opinião pública de que a sala onde Kelsy foi atendida estava em condições adequadas. Pior, aumentou as fileiras de pessoas indignadas, que interpretaram o vídeo como uma tentativa do prefeito dizer que a família mentiu nas denúncias que fez.
O vídeo está sendo compartilhado nas redes sociais pela maioria das pessoas que ocupam cargos de confiança do prefeito, desde secretários municipais, passando por servidores de carreira com funções de confiança e comissionados. Ou seja, eles apoiam e corroboram o teor do vídeo.
Circula em grupos de WhatsApp, um vídeo da reação de Rosa logo após assistir o vídeo do prefeito. Aos prantos e desesperada, ela demonstra revolta e, indignada, afirma que ele mente na publicação.
As denúncias reforçam a comoção e o clamor por justiça que tomam conta da população bananalense desde a morte de Kelsy, que deixou marido, dois filhos adolescentes e uma filha de dois anos e seis meses que não para de perguntar pela mãe.
Uma passeata organizada por amigas de Kelsy foi agendada para protestar contra o que ocorreu com ela. Rosa afirmou para a Gazeta de Bananal que não irá participar, mas disse estar grata pelo apoio recebido. "Não vou impedir uma livre manifestação dos amigos da Kelsy, mas deixei claro que não quero o nome de minha filha ligado a manifestação agressiva. Desde que seja pacífica, tem meu apoio".
A família espera que os órgãos competentes investiguem o caso de forma aprofundada e que os responsáveis, caso confirmada negligência hospitalar, sejam devidamente punidos. Na manhã de quarta-feira, 21 de maio, eles apresentaram a denúncia diretamente à Promotoria de Justiça da Comarca de Bananal, incluindo documentos do prontuário do atendimento a Kelsy.
O prefeito de Bananal anunciou no vídeo o afastamento do secretário de Saúde e do médico plantonista que atendeu Kelsy, além da transferência temporária de seu gabinete para a própria unidade de saúde. Ele afirmou que um relatório final sobre o caso será encaminhado ao Ministério Público e à Câmara Municipal para apuração.
Para a Gazeta de Bananal os familiares afirmaram que não vão aceitar o resultado de investigações feitas pela prefeitura, com pessoas agindo sob interferência direta do prefeito e nem de vereadores que, segundo informações recebidas por eles, foram vistos dentro da unidade de saúde para alinhar narrativas sobre o caso. O prefeito de Bananal conta com o apoio da maioria dos vereadores na Câmara, incluindo o atual presidente da Casa, Luiz Cosme Martins de Souza.
Para alguns familiares de Kelsy, a questionável credibilidade da versão do vídeo apresentado pelo prefeito "numa sala maquiada", insinuando que eles mentiram, já são prova de tentativa de manipulação dos fatos. E a mudança do gabinete para a "Unidade Mista" não é para garantir transparência mas, ao contrário, ter a situação sob controle para garantir que "documentos" e testemunhas fiquem alinhados com a versão mais conveniente à administração municipal e ao gestor do município.
Uma pessoa próxima da família, que pediu para não ser identificada, considera que, na verdade, o prefeito e outros envolvidos no precário estado em que se encontra o sistema de saúde do município deveriam ser impedidos de entrar naquele local e afastados de seus cargos para não influenciarem nas investigações em curso. "Se for verdade que já começaram adulterando a sala de emergência, o que dizer de documentos?", questiona o amigo da família.