Mãe de Kelsy Santos detalha falhas no atendimento em Bananal: “Minha filha foi transferida pedindo ar, com monitor quebrado”

Vicentina Rosa dos Santos descreveu precariedade da unidade de saúde no atendimento à filha: aparelho teria sido socado para funcionar e ambulância de transferência estava com oxigênio falhando

Por Ricardo Nogueira

Em novo desabafo publicado nos comentários da página da Gazeta de Bananal no Facebook, Vicentina Rosa dos Santos, mãe de Kelsy Santos que faleceu na madrugada de domingo (18) após ser diagnosticada com pneumonia, detalhou as falhas na "Unidade Mista de Saúde de Bananal" que acredita terem resultado na morte da filha. Ela descreve uma estrutura inadequada, falta de medicamentos e despreparo técnico diante de equipamentos que não funcionaram no atendimento prestado à paciente.

De acordo com Rosa (como é mais conhecida), sua filha Kelsy deu entrada no pronto atendimento municipal ainda na manhã de sábado, quando o médico de plantão reconheceu que o quadro era grave. Mesmo assim, Kelsy foi liberada para retornar para casa. Horas depois, seu estado piorou drasticamente, obrigando o retorno à unidade de saúde durante a noite.

Segundo o relato, a cena que a família encontrou na unidade foi desesperadora. “Médicos em formação recente não sabiam o que fazer” diante de uma situação agravada por falhas nos equipamentos. Na publicação, Rosa afirma que o monitor cardíaco não estaria funcionando, e o profissional chegou a “socar o aparelho para ver se voltava a funcionar”. Além disso, não havia medicamentos adequados para controlar o quadro de taquicardia apresentado por Kelsy.

Kelsy aguardou transferência para a Santa Casa de Cruzeiro, cidade referência para casos graves da região. Rosa denuncia que a remoção da filha foi feita em uma ambulância comum, sem UTI móvel, com o cilindro de oxigênio falhando. “Ela foi pedindo socorro, dizendo que precisava respirar”, relatou a mãe. O mesmo monitor com defeito teria sido utilizado durante o transporte.

Segundo a descrição de Rosa, ao chegar em Cruzeiro, o médico que atendeu Kelsy teria expressado indignação com as condições em que a paciente foi encaminhada. “Ela só chegou viva porque Deus permitiu”, diz o desabafo.

Rosa também fez questão de reconhecer o empenho das enfermeiras da unidade de saúde em Bananal, que, segundo o relato, “fizeram o que podiam por ela, até oração em cima dela fizeram para tentar salvar sua vida”.

O texto encerra com um apelo à população e às autoridades, deixando claro que a família buscará justiça: “A saúde de Bananal precisa de atenção. Até quando vamos enterrar pessoas que tinham uma vida inteira pela frente? Hoje foi uma familiar nossa, outro dia pode ser a de vocês. Vamos procurar nosso direito. Não vamos nos calar!”

Mais de 30 horas depois da fatídica ocorrência, a Prefeitura de Bananal divulgou nota afirmando que instaurou uma Comissão de Revisão de Óbito para apurar o caso "com transparência e responsabilidade".

A reportagem apurou que a Nota foi recebida com ceticismo e até mesmo revolta por amigos e familiares de Kelsy. Eles se mostraram indignados com o tom superficial da Nota, emitida em tom protocolar, omitindo o nome da paciente e sem os detalhes preliminares que o caso requer, parecendo apenas ter se precavido de acusações de descaso e omissão do governo municipal diante da repercussão que a morte teve na opinião pública e na imprensa.

A morte de Kelsy, que deixou marido, dois filhos adolescentes e uma filha de 2 anos e seis meses, gerou forte comoção entre os moradores de Bananal, mobilizando intenções de encaminhar denúncias formais ao Ministério Público. Um grupo de WhatsApp foi criado para coordenar uma pressão sobre as autoridades na adoção de providências efetivas. Tanto na apuração do que ocorreu com Kelsy, quanto para evitar a repetição dessas falhas no sistema de saúde em Bananal. Mais do que cobrar respostas, o objetivo é transformar a dor da perda de Kelsy em um marco de conscientização, para que sua história não seja esquecida e jamais se repita com outra família.  

Em outra publicação no seu perfil, Rosa voltou a externar sua dor de mãe e reafirmou que buscará justiça: " (...) a justiça vou fazer pelos que necessitam da unidade básica, porque não é justo o descaso com a população. Jamais vou me calar (...) Basta, chega." 


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