Por Ricardo Nogueira
Após quase duas décadas de disputas e tentativas frustradas, o prédio da antiga Estação Ferroviária de Bananal voltou oficialmente a pertencer ao município. O anúncio foi feito nesta segunda-feira (11) pelo prefeito William Landim da Silva, que confirmou a assinatura digital do processo eletrônico de cessão do imóvel pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos à Prefeitura de Bananal.
O edifício, construído em 1888 e inaugurado em 1889, foi a única estação ferroviária brasileira levantada inteiramente em estrutura metálica importada da Bélgica, sendo considerado um ícone arquitetônico e histórico do Vale do Paraíba. Tombado como patrimônio histórico, o prédio havia passado para o controle dos Correios em 2006, após a municipalidade perder uma ação judicial. Desde então, permaneceu fechado na maior parte do tempo, sofrendo deterioração e sem receber investimentos para sua conservação.
Ao longo desses anos, diversas gestões municipais e agentes políticos buscaram reaver o imóvel, mas sempre encontraram forte resistência por parte dos Correios. Conforme ressaltado pelo prefeito, a conquista é fruto de muito trabalho e empenho de várias lideranças locais, que resultou na assinatura do processo eletrônico garantindo a cessão da Estação à Prefeitura. Ele afirmou que, a partir de agora, o município buscará recursos para restaurar o prédio, considerado um importante monumento histórico e cultural, fundamental para a preservação da memória, o fortalecimento da identidade local e o fomento ao turismo. O prefeito também informou que, ainda nesta semana, o superintendente dos Correios virá a Bananal para o ato formal de cessão do imóvel.
A expectativa agora é elaborar projetos para a recuperação e revitalização da Estação, devolvendo à população e aos visitantes um dos marcos mais emblemáticos da história de Bananal e do transporte ferroviário paulista.
A jóia belga de Bananal
Construída em 1888 e inaugurada em 1889, a Estação Ferroviária de Bananal é o único edifício metálico desmontável do gênero no continente americano. Importada da Bélgica, sua estrutura conta com cerca de 2 mil placas galvanizadas almofadadas e piso superior em autêntico pinho de Riga. Símbolo da riqueza dos “Barões do Café”, tornou-se o principal atrativo turístico da cidade.
Com 335 m² de área, incluindo plataforma coberta por marquise, abriga um compartimento central para bilheteria, dois laterais — um deles com escada helicoidal de ferro — e setor administrativo no piso superior. O destino da estação seguiu o do ramal ferroviário, que entrou em decadência com a queda da produção cafeeira e foi encerrado em 1964.
Tombada pelo patrimônio histórico em 1969, já serviu como sede dos Correios, rodoviária, biblioteca e guardou acervo histórico municipal. Em 1976, a União formalizou a entrega da edificação para os Correios, após a prefeitura ficar uma década utilizando o imóvel.
Em 1983, foi declarado de utilidade pública pela Prefeitura, em ato que pediu uma vistoria do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo, visando sua restauração.
O edifício foi restaurado pelo Condephaat em 1985 e parte dos seus móveis foram transferidos para o Museu Imperial de Petrópolis.
Em meados dos anos 2000, após decisão judicial em ação que o município reivindicava sua posse, a Estação ficou sob controle dos Correios e permaneceu fechada, deteriorando-se.
Mesmo assim, a estação seguiu como o cartão-postal mais fotografado de Bananal, atraindo visitantes pela imponência, singularidade e valor histórico, simbolizando um dos capítulos mais marcantes da história ferroviária e cafeeira do Brasil.