Japão, Angra, Bananal.



     Preliminarmente é importante os leitores ficarem cientes de que as matérias pesquisadas e constatações a seguir não visam provocar alarmismos (até porque desnecessários), mas tão somente alertar sobre a necessidade de preparo da população em situações de extrema urgência. São informações colhidas em matérias de jornais, rádios, telejornais e sites da internet especializados nesses tipos de fenômenos naturais.
Após os desastres recentes que só fizeram comprovar que a força da natureza vai muito além do que podem prever a ciência e a tecnologia desenvolvidas pelo homem, o mínimo a ser feito é dar às pessoas condições de sobreviverem quando o “inesperado” acontece.
Com esse intuito, vamos estabelecer paralelos entre o sinistro japonês e sua aplicabilidade numa eventual quebra da tranqüila realidade de Bananal.  
Apenas para ilustrar nossa afirmação: durante décadas os japoneses se orgulhavam por terem construído diques, quebra-mares e barreiras de contenção capazes de suportar ondas de até 8 metros, algo impensável para a época. As ondas provocadas pelo tsunami do dia 11 de março atingiram 10 metros, com uma força avassaladora, jamais prevista pelo homem, devastando cidades inteiras e ceifando a vida de pessoas que se consideravam totalmente protegidas desse fenômeno.
São muitas as lições a serem tiradas da tragédia no Japão, tanto em relação à vulnerabilidade a terremotos quanto ao nível de segurança de quem está próximo de uma usina nuclear.
Quem mora em Bananal está mais sujeito a essas situações do que imagina.
O grau de risco é ínfimo, mas não totalmente descartado.

TERREMOTOS NO BRASIL

Para deflagrar esse tipo de conscientização um grande mito precisa ser derrubado.
O mito de que no Brasil não existem terremotos.
Eles existem sim. Em escalas menores, mas existem.
É fato que o Brasil está situado no meio de uma placa tectônica (a Sul-Americana) e isso diminui a possibilidade de grandes terremotos porque eles ocorrem onde as placas se encontram. Ao todo, são 12 placas tectônicas na crosta terrestre.


O mito foi construído porque durante séculos os abalos sísmicos ocorriam em regiões desabitadas e também inexistiam no país aparelhos para detectar o fenômeno. Só recentemente o Brasil passou a contar com uma rede de sismógrafos cobrindo todo o seu território.
A partir daí foram vários os registros de terremotos provocados por falhas geológicas. 
São 48 delas em solo brasileiro. 



Uma dessas falhas, denominada Tachaquara, fica a menos de 10 quilômetros da usina nuclear de Angra dos Reis. Em território bananalense, já bem próximo à divisa com Barra Mansa, existe a falha BR-42 que vai até o extremo norte do estado do Rio (detalhes no post seguinte).
Importante ressaltar que o maior abalo sísmico registrado na região foi mil vezes mais fraco do que o registrado no Japão.
O risco sísmico no Vale do Paraíba, medido pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo, é classificado pela letra “B”, numa escala de abalos que podem, no máximo, fazer portas e janelas tremerem ou sacudir armários.
  
USINA NUCLEAR

Dentre as conseqüências do tsunami do Japão, a que mais deixou o mundo apreensivo foi o iminente vazamento de material radioativo da usina nuclear de Fukushima 1. Novamente as forças da natureza causaram avarias até então imprevisíveis e obrigou os japoneses, conhecidos pela eficácia e precisão, a improvisar, bombeando água do mar para tentar resfriar os reatores nucleares.
Chamou a atenção deste blogueiro a disparidade de entendimento dos cientistas sobre a distância mais segura para os cidadãos ficarem da usina. Enquanto os japoneses retiravam pessoas num raio de 30 km, americanos recomendavam 80 km, espanhóis 120 km e alemães 250 km. Uma diferença de concepção, entre a mais próxima da usina (japonesa) e a mais distante (alemã), de 220 km! Uma distorção abissal em se tratando de cientistas.
No dia seguinte aos estragos em Fukushima, a imprensa nacional correu na busca por detalhes sobre Angra 1, 2 e 3 para estabelecer um parâmetro de riscos e medidas de segurança.
Uma boa notícia é que Angra possui tecnologia mais avançada e é mais segura em relação à usina Fukushima.
O fato preocupante é o desconhecimento da população sobre como proceder no caso de vazamento de partículas radioativas. Reportagens comprovaram que a própria população de Angra dos Reis não está devidamente treinada e preparada para agir nessas situações. Houve época em que as simulações de retirada da população eram realizadas, mas com um contingente muito pequeno de populares. Cidades da região, incluindo Bananal, eram informadas do treinamento, mas jamais participaram de exercícios integrados. Hoje em dia, o máximo que existe são boletins enviados às prefeituras sobre as condições de funcionamento da usina, não havendo garantias de que alertas sejam emitidos em tempo hábil para uma retirada maciça.
Nestes casos uma série de informes e avaliações devem ser feitos na orientação às pessoas. O quê levar de mantimentos? Qual o caminho mais seguro a percorrer, levando-se em consideração que o vento pode espalhar a radiação para qualquer lado? Como evitar o desespero das pessoas e convencê-las de que só agindo com disciplina e de forma ordeira pode-se evitar o caos? Como orientá-las a não beber e nem utilizar a água dos rios, pois justamente eles podem espalhar a contaminação? Como retirar as pessoas que residem nos sertões que fazem divisa com Angra, sobretudo as comunidades próximas ao Frade, Mambucaba, Praia Brava, etc? 


Ponto A = Centro de Bananal
Ponto B = Usina Nuclear de Angra


Voltando à questão da disparidade no entendimento dos cientistas sobre o raio de retirada da população, Bananal só estaria livre de inclusão na concepção japonesa, de 30 km em relação à usina.
A partir da recomendação dos americanos, de 80 km, o município já estaria inserido no raio de retirada. Não se pode considerar a distância de 113 km entre Bananal e Angra porque é um caminho que percorre 4 rodovias (SP-68, RJ-139, RJ-155 e BR-101) numa grande volta a leste para chegar ao litoral. Em linha reta, a distância encurta cerca de 73 km. Ou seja, apenas 40 km separam o núcleo urbano de Bananal das instalações de Angra I e II. Menos ainda, considerando-se a área de nossos sertões.
Como se vê, por menor que sejam, os riscos devem ser considerados e a população merece receber instruções, informações e treinamentos periódicos para terem chances de sobrevivência diante de um acidente nuclear. É o mínimo que se espera das autoridades envolvidas por ser uma elementar questão de humanidade.
Para encerrar, considero oportuna uma declaração do físico nuclear José Goldemberg, da USP, ao jornal Folha de S. Paulo, sobre o risco fundamental , nos reatores, da água parar de circular e fazer com que as barras de combustível derretam: “Basta um defeito numa válvula. Dizer que Angra é seguro porque não tem tsunami é bobagem.”               
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