PLINIO GRAÇA


ARTIGO - Ricardo Nogueira

Na manhã de sexta-feira, 1° de julho, Bananal não sepultou apenas um grande homem.

Sepultou um ser humano de incontáveis virtudes: como farmacêutico prático, como provedor da Santa Casa, como líder político, como referência histórica, como vice-prefeito e, por duas vezes, como prefeito.

Um homem público que se notabilizou por administrar a prefeitura com uma grande capacidade de gestão, colocando as contas em ordem e realizando obras de infra-estrutura para uma cidade que, até então, pouco conquistara após os áureos tempos do café. Poucas ruas eram calçadas, a rede de água e o saneamento quase inexistiam e o fornecimento de luz tinha hora certa para ser desligado.

Coisas que hoje são corriqueiras, como água na torneira, esgoto tratado, energia elétrica o tempo todo, foram conquistas árduas para uma cidade colocada à margem do desenvolvimento após a inauguração da rodovia Presidente Dutra – com o conseqüente esvaziamento da antiga estrada Rio-São Paulo - e também a desativação do ramal ferroviário que ligava Bananal a Barra Mansa.

Plínio Graça foi uma das figuras marcantes deste período. Ao lado de outros grandes homens, minorou os problemas da população superando adversidades inimagináveis nos tempos atuais.

Estamos falando de um período em que não haviam os repasses automáticos para a prefeitura custear saúde, educação, obras e tudo o mais. Eram tempos de “passar o chapéu” na capital, esperando horas para tentar falar com um deputado ou um governador para defender os interesses de Bananal e pleitear verbas que raramente vinham.

Paralelamente aos desafios na prefeitura ainda atuava no corpo diretivo da Santa Casa de Misericórdia de Bananal, mostrando capacidade organizacional para administrar os parcos recursos que angariava como entidade benemérita.

O administrador Plínio Graça foi moldado sob esse mar de carências e soube, como ninguém, conduzir Bananal para os tempos atuais.

Com visão de futuro, realizou obras difíceis e indispensáveis para o desenvolvimento do município. Para citar uma das mais importantes, seria possível imaginar a cidade sem a ponte que interliga as cercanias da Igreja da Boa Morte à rua Ernani Graça, no centro?  
       
O lider político conseguiu a proeza de lutar pelo bem estar de sua cidade e de sua gente sem fazer inimigos.

Recebia as criticas com serenidade, mesmo as produzidas com inverdades.

A conduta proba como administrador e a postura digna nos embates eleitorais rendiam os adversários, que, não raro, viravam amigos.

Até mesmo o carisma que lhe conferia liderança era diferenciado. Sua posição era galgada através de uma fala mansa e suave. A postura fisicamente frágil era compensada com uma altivez que expunha claramente a nobreza de seus princípios.

O farmacêutico Plínio Graça era um misto de médico e assistente social. Uma faceta que assumiu corajosamente em substituição a seu pai, Sr. Ernani Graça, outro grande bananalense. Numa época em que a cidade tinha dois, ou às vezes um médico, seus conhecimentos serviam para dar alento àqueles que não podiam custear o atendimento médico e/ou os medicamentos. São incontáveis os casos conhecidos de pessoas e famílias em dificuldades que não foram cobradas pelos remédios que receberam dele.

Por fim, sua virtude mais conhecida pelas novas gerações: a de referência histórica. Quando ainda estudava no Rio de Janeiro, o então jovem Plínio Graça, ao perder o pai, abraçou a causa de manter a Pharmácia Popular em funcionamento. A exemplo das adversidades já mencionadas em suas outras áreas de atuação, trabalhou intensamente para cumprir esse objetivo até o final de sua vida.

E nesse objetivo, Bananal e o Brasil ganharam uma verdadeira enciclopédia viva sobre suas respectivas histórias. Emociona a lembrança do brilho em seus olhos ao contar a nossa história e mostrar para estudantes e turistas os relicários da Pharmácia Popular. A dedicação e o zelo com que tratou aquele acervo são comparáveis a um sacerdócio. 
 
Nem mesmo as marcas do tempo que insistiam em desgastar o prédio e a impossibilidade de comercializar medicamentos o demoveram do objetivo de manter as portas da farmácia sempre abertas.

Há cerca de um ano, numa das aprazíveis conversas que tivemos, invariavelmente sobre política e reportagens sobre a farmácia (ele sempre me chamava quando era publicado algo sobre a farmácia), comentei sobre uma reportagem da revista Trip em que ele desabafou, expondo a intenção  de fechar o negócio.

Ele me disse olhando bem nos olhos: “Falei por falar. Não vou fechar nunca. Isso aqui é a memória do meu pai”.

Diante de tal lembrança, peço licença para imaginar o Sr. Ernani recebendo-o com um abraço bem forte lá no céu. 

       O abraço de um pai orgulhoso pela trajetória de um filho honrado e bondoso, que soube escrever com louvor as mais belas páginas da história bananalense.
Postagem Anterior Próxima Postagem