A edição de nº 15 do jornal “O
Poder Jovem” circulou no dia 1º de abril de 1969.
Era o “dia da mentira” mas o
periódico bananalense trazia em sua primeira página uma manchete verdadeira,
que marcaria a história da imprensa local.
Uma entrevista com ninguém menos do que o Rei do Futebol: “O Poder Jovem com Pelé”.
Uma entrevista com ninguém menos do que o Rei do Futebol: “O Poder Jovem com Pelé”.
A foto que ilustrava a reportagem
mostrava os sorrisos descontraídos do goleiro Carlindo e de Pelé no vestiário
da Vila Belmiro. Ao fundo, o quadro de avisos com o programa de treinamento,
especificação do local e observações, conferiam a veracidade da matéria. Era
mesmo Pelé dando entrevista para um jornal de Bananal!
O feito foi proporcionado pelo
bananalense Carlindo, que, de Santos, contribuiu com seus amigos de infância
que integravam a redação do Poder Jovem. Dentre eles, seus irmãos Danilo e Toninho.
A entrevista retrata de forma
pitoresca aquele momento do futebol brasileiro. São abordadas a preparação da
seleção canarinho, ainda treinada por João Saldanha, para as eliminatórias da
Copa do México e a expectativa de Pelé para marcar seu milésimo gol. O feito se
concretizaria em novembro daquele mesmo ano.
Carlindo ainda cantarolou para o
Rei uma música de Valdir Valim que havia acabado de vencer o Festival da Canção
da cidade e pediu sua opinião musical.
Ao final, Pelé deixou uma mensagem
especial aos leitores e esportistas de Bananal.
A Gazeta de Bananal reproduz abaixo o texto na integra daquela primeira
página inesquecível.
Bananal (SP), 1 de Abril de 1969
Em se tratando
de futebol as atenções se voltam a um só nome: PELÉ.
Cronistas de
todo o mundo tentaram mas não encontraram, e nem encontrarão, palavras capazes
de traduzir seu futebol genial.
Suas jogadas
imprevisíveis desbaratam qualquer defensiva, pois diante de um ser superior,
PELÈ, nada se pode fazer dado os largos recursos de seus pés e cérebro.
Os jogadores
incumbidos de marcá-lo não descobriram meios eficazes para neutralizá-lo
tamanha é sua versatilidade.
Seu antigo
companheiro de equipe MAURO considera-o «REFLEXO DO REFLEXO».
Gabriele
Haunot, o maior cronista da Europa, assim o sintetizou: «Não se viu antes, não
se vê agora, e não se verá nunca um jogador tão perfeito como ele».
Como
futebolista conquistou todos os títulos possíveis: Bi-Campeão Mundial, Campeão
Paulista, Campeão Brasileiro, Campeão Sul Americano (Militar), Bi-Campeão
Mundial (Interclubes), Bi-Campeão Sul Americano (interclubes), Campeão do
Rio-São Paulo, Campeão da Taça de Prata.
Somente um
titulo não conseguiu: o de Campeão Panamericano.
Mesmo sendo o
melhor jogador do mundo, mesmo sendo o maior artilheiro de todos os tempos, deu
mostra de grande simplicidade ao ser entrevistado pelo nosso correspondente em
Santos, CARLINDO DOS SANTOS NOGUEIRA.
Esclarecemos
aos leitores que as perguntas abordaram apenas temas atuais como verão a
seguir:
REPÓRTER: Bananal fez um FESTIVAL DA CANÇÃO, iniciativa do «PODER
JOVEM». Gostaria que desse opinião a respeito da música «Não há felicidade
completa», vencedora do FESTIVAL, cantada por mim e RILDO (durante a entrevista).
PELÉ: A letra é bonitinha, é preciso ouvir com arranjo.
REPÓRTER: Como encara as declarações de João Saldanha, ao dizer que
se não conseguir conjunto, colocará o time do Santos com alguns reforços para
representar o Brasil?
PELÉ: Ele pensa assim porque a equipe do Santos já é estruturada e
tanto poderia ser o Santos como qualquer outra equipe entrosada.
REPÓRTER: Qual as possibilidades do quadro brasileiro nas
Eliminatórias?
PELÉ: Confio e muito no Brasil.
REPÓRTER: E os 1.000 gols?
PELÉ: Se tiver que vir, vem normalmente.
REPÓRTER: Fora você, aponte 5 craques nacionais.
PELÉ: Seria injusto se citasse apenas 5, existem muitos.
REPÓRTER: E o TRI?
PELÉ: Vamos nos unir, jogadores, diretores, torcedores, a crônica e
se DEUS quiser conseguiremos.
REPÓRTER: E como vamos de novelista?
PELÉ: Gostei da nova experiência.
REPÓRTER: O nome do jornal é «O PODER JOVEM», dê conselho aos
jovens da nova geração.
PELÉ: É muito difícil dar
conselho pois a época em que fui garoto era bem diferente desta. A mocidade de
agora é mais extrovertida, com as novas invenções.
REPÓRTER: A estatística mostra que o Santos possui 49% da torcida
do Brasil depois da ERA PELÉ. Que acha disso?
PELÉ: Acho que não é só por causa da ERA PELÉ, mas porque o melhor
time do momento passa a ser admirado pelas crianças.
(Do correspondente)
Ao se despedir de nosso
correspondente Pelé enviou-nos a seguinte mensagem:
Aos queridos amigos leitores do Poder Jovem de Bananal e desportistas
em geral, esta recordação carinhosa do: Edson - Pelé.