Líder na política, no esporte e em causas sociais, ex-vereador Godô faleceu aos 63 anos em Bananal

 

Vitimado por doença que debilitou seu organismo, Godô faleceu deixando um legado de amizade, empatia e diferenciada capacidade de articulação política em agregar apoios  

Por Ricardo Nogueira

A 14 dias de completar 64 anos, faleceu no sábado, 03 de julho, pelo agravamento de uma doença na bexiga, o ex-presidente da Câmara de Bananal Antônio Carlos Ramos da Silva, o Godô. Ele chegou a ser internado na semana passada para uma cirurgia, mas no procedimento foi constatado o comprometimento do organismo na área afetada pela doença. Godô foi sepultado neste domingo.

Com forte estilo agregador e solidário, Godô deixa como marca uma capacidade de liderança alicerçada no diálogo, na amizade e na perseverança. 

Foi presidente da Câmara duas vezes. Com popularidade nas camadas mais humildes, foi candidato a prefeito em 3 eleições. Não foi eleito, apesar de obter votações consideráveis nas disputas. Obteve 920 votos nas eleições de 2000, 1.553 na de 2012 e 1.750 em 2016. Como vereador foi eleito em 2004 com 238 votos e reeleito como o mais votado em 2008, com 351 votos. A cada eleição, Godô sempre seguiu em escalada crescente, obtendo mais votos do que no pleito anterior.

Mais cotado para as eleições de 2020, decidiu atender aconselhamento jurídico e abdicou da candidatura ao verificar que não teria tempo hábil em recorrer de um impedimento por pendências técnicas no julgamento de suas contas. Seu apoio foi então disputado pelos 3 pretendentes à chefia do Poder Executivo de Bananal.

Eminentemente como homem de raízes no campo, gostava de bois, cavalos e de empreendedorismo na produção rural. Chegou a atuar como comerciante em loja de material de construção. No campo esportivo, foi goleiro e fundador, em 1991, do Mirasserra, um dos times com maior tempo de existência no município

Nos últimos anos, encampou a causa assistencial junto aos idosos e foi determinante para a continuidade do asilo que estava prestes a encerrar as atividades no município. Rebatizado como Lar dos Idosos de Bananal, a nova instituição permanece em atividade graças à resiliência de Godô em superar entraves burocráticos. (veja a biografia ao final da matéria)

Condolências

O falecimento de Godô provocou comoção imediata por toda a cidade. Rapidamente, centenas de manifestações de pesar e solidariedade foram enviadas à sua família, presencialmente e pelas redes sociais.

A prefeitura de Bananal publicou nota no Facebook.

Representantes do Legislativo, como as vereadoras Erika Affonso e Karyna Barros também externaram luto. O mesmo se verificou com representantes dos times de futebol locais, além dos amigos cultivados nos demais segmentos onde Godô atuou. 

Biografia

Antônio Carlos Ramos da Silva nasceu em Bananal no dia 17 de julho de 1957.

Passou parte da infância na fazenda do avô que lhe deu o apelido Godô. Depois, na Fazenda da familia Porto, cresceu e estudou.

De lá foi sitiante por algum tempo até ingressar no Banco Econômico em 1976. Anos depois, foi transferido da Agência de Bananal para Salvador, na Bahia. Passou por Recife, Pernambuco e encerrou a carreira bancária em Rio Branco, no Acre.

Regressou a Bananal para abrir uma loja no ramo da construção civil, a Miraserra Materiais de Construção. Adepto do futebol, jogou como goleiro em equipes da cidade e no próprio time que fundou com o nome de sua loja. O Mirasserra completará 30 anos em novembro deste ano. Após um incêndio na loja, ocorrido nos anos 90, teve sérios prejuízos e largou a atividade empresarial.

O ingresso na política foi através do convite de representantes do PMDB. Filiou-se ao partido e aceitou o desafio de sair candidato a prefeito em 2000 contra dois fortíssimos candidatos: o então Prefeito Wilton Néri Pereira (buscando a reeleição) e a Presidente da Câmara, Mirian Bruno. Mesmo sem recursos financeiros obteve uma votação expressiva, surpreendendo a todos com seus 920 votos. 

A vitória não veio, mas serviu para alicerçar sua carreira política nas eleições seguintes.

Em 2004 foi eleito vereador com 238 votos.

Dono de um estilo conciliador e propositivo, foi ganhando confiança para realizar sua dinâmica de trabalho. Já em sua primeira legislatura conseguiu o apoio de seus pares para assumir a presidência da Casa de Leis no biênio 2007-2008. 

Nas eleições de 2008 foi reeleito vereador com a maior votação dentre  todos os candidatos (351 votos). Foi reconduzido ao cargo de Presidente da Câmara no biênio 2011/2012 encabeçando uma Mesa Diretora com Erika Affonso na Vice-Presidência, Vilmar Silva (pai do atual prefeito de Bananal) como 1º Secretário e Lúcia Nader na 2ª Secretaria.


Assumiu, e cumpriu, o compromisso de aproveitar sua experiência anterior para promover uma reforma sem precedentes na estrutura administrativa da Câmara Municipal.

Iniciou os procedimentos para a revisão e atualização da Lei Orgânica do Município e do Regimento Interno da Câmara. Em janeiro de 2011 ele concedeu entrevista a Gazeta de Bananal expondo sua visão daquele momento e as metas previstas. (clique aqui para ler a entrevista)


Entendendo que a comunicação era importante para estreitar o vínculo com os munícipes, adquiriu novos equipamentos de som e microfones modernos para o plenário. Implantou as transmissões ao vivo com imagens das sessões ordinárias por streaming de vídeo (que perduram até hoje), além de incentivar a produção do programa de rádio "Informativo Câmara" para ser inserido na programação da rádio comunitária.

Deu início também a medidas de controle nos gastos da Câmara e na realização de concurso para cargos na Secretaria Administrativa, na Tesouraria e no Jurídico da Câmara. Boa parte dessas medidas teve sequência e foi executada por seus sucessores, consolidando um novo patamar administrativo para o Legisltativo de Bananal. Desde então, a aprovação das contas da Câmara no TCE em São Paulo passou a ser uma constante.

Da mesma forma abriu a Câmara para debates e a fase preliminar de elaboração do complexo Plano Diretor Participativo de Bananal.


A partir de 2012, Godô resolveu disputar apenas eleições para prefeito. Naquele ano, obteve a preferência de 1.553 eleitores, atingindo 23,97% dos votos válidos. Ficou apenas 4,57% atrás dos candidatos Mirian Bruno e Peleco, empatados com 1.849 votos. Foi a eleição mais equilibrada entre 3 candidatos até hoje na história de Bananal.

Em 2016 aumentou a quantidade de votos para 1.750, alcançando 26,06%. Foi o segundo mais votado, ficando à frente da então prefeita Mirian Bruno na eleição que elegeu Peleco, com 47,72% dos votos válidos.

Favorito para a disputa de 2020, divulgou em agosto a decisão de não disputar o pleito, inconformado com pendências meramente técnicas, de anos anteriores, que poderiam resultar em pedidos de impugnação para inviabilizar sua candidatura.

Fora da política chegou a integrar comissões para evitar o fechamento da SAB nos anos 90 e 2000. Mais recentemente, dedicou-se ao Lar dos Idosos de Bananal, superando adversidades burocráticas e financeiras para viabilizar um adequado acolhimento aos idosos do município em situação de vulnerabilidade.



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