Preâmbulo:
Há vinte anos (junho de 2005), a professora Chemune Nader, que nos deixou no último dia 13, escreveu um belo e sensível artigo sobre a celebração do Corpus Christi, a convite de seu ex-aluno do 1º ano primário na escola Cel. Nogueira Cobra, o jornalista Ricardo Nogueira, editor responsável da Gazeta de Bananal. Naquele ano, declarado Ano Eucarístico pelo Papa João Paulo II, Dona Chemune resgatou com riqueza de detalhes o significado religioso da celebração de Corpus Christi e compartilhou com os leitores a origem dos tradicionais tapetes ornamentais confeccionados em Bananal, destacando a iniciativa pioneira da professora Doralice Costa.
Seu texto, reproduzido a seguir, é um valioso registro da fé, da memória e da cultura religiosa de nossa cidade, preservando não só a história da tradição católica, mas também a dedicação e o talento das pessoas que a mantêm viva há décadas.
FESTA DE CORPUS CHRISTI
Em Bananal, o primeiro tapete artístico foi feito por Dona Dora, em 1955, ao pintar no chão, em frente à Igreja do Rosário, o rosto de Nossa Senhora ...
Por Chemune Nader
A festa religiosa de Corpus Christi (Corpo de Cristo) foi instituída pelo Papa Urbano IV no ano 1274, após o famoso milagre de Lanciano, quando o povo, num ato de desagravo, levou para as ruas o Santíssimo Sacramento, em procissão.
(Em Lanciano, um sacerdote, após pronunciar as palavras da Consagração, duvidou que aquela hóstia tivesse mesmo se transubstanciado no Corpo e no Sangue de Cristo. Imediatamente a hóstia, nas suas mãos, transformou-se em um pedaço de carne e sangrou. Examinada por muitos e muitos cientistas, católicos e não católicos, ficou comprovado cientificamente que aquele tecido carnoso e o sangue faziam parte de um coração humano. Recolhidos em âmbulas de ouro, estas duas espécies encontram-se expostas em uma igreja de Lanciano - Itália, para onde acorrem muitos peregrinos.)
Urbano IV determinou então que a cada ano, em todo o mundo cristão, se repetisse essa homenagem pública, para afirmar a presença real do Corpo e Sangue de Cristo na Hóstia Consagrada.
Este ano de 2005 foi decretado pelo Papa João Paulo II um Ano Eucarístico, isto é, inteiramente dedicado à Eucaristia.
A tradição de enfeitar as ruas neste dia vem de muitos anos. Ela traduz a fé, o carinho e a homenagem do povo ao Cristo que irá passar em solene procissão.
Aqui em Bananal esta tradição possui mais de 60 anos. No início eram apenas folhagens que se espalhavam pelas ruas. As janelas das casas eram ornamentadas com toalhas bordadas e vasos com flores.
Aos poucos começaram a surgir as passarelas de serragem que foram ganhando colorido e enfeites de tampinhas de garrafa recobertas com papel laminado, e de pó de café que era reservado durante um ano inteiro.
A imaginação das pessoas foi criando asas e passaram a colorir a areia, a serragem e até o sal grosso. A cada ano havia o empenho de cada rua criar um desenho mais bonito que o anterior.
Começaram a surgir os tapetes, cada um mais artístico que o outro.
O primeiro foi feito pela Professora Doralice Costa (Dona Dora), em 1955. Neste ano ela teve a idéia de pintar o chão, em frente à Igreja do Rosário, um tapete com o rosto de Nossa Senhora. Usou pó xadrez para isso e como ela mesma recorda, foi a maior dificuldade, pois ninguém acreditava que iria dar certo.
E há 50 anos, completados neste ano, ela vem realizando este trabalho, apesar de todas as limitações físicas que o tempo lhe deu.
Hoje são muitos os artistas que espalham seus tapetes pela cidade e maior ainda o número de turistas que vem apreciá-los.
É bonito ver a união e a disposição das pessoas neste dia. Crianças, jovens e adultos começam cedinho o trabalho. O resultado é um colírio para os olhos.
E Deus deve gostar desta demonstração de carinho do nosso povo, pois nos retribui com muitas bênçãos.
É fato comprovado que, realmente, Bananal é uma cidade muito abençoada!